Tribulações de um português num comboio chinês

Que cena! Este é o 11º comboio que apanho na China, mas esta ainda não me tinha acontecido. Como de costume não tinha lugar reservado, tendo chegado à estação em cima da hora. Como estou a fazer um voluntariado em Chengdu, meu destino, e não queria arriscar chegar em modo zombie, decidi-me a pedir uma « cama dura », já dentro do comboio. Digo « arriscar » porque acabei sempre por passar uma noite aceitável, num ou vários assento(s) não ocupado(s) ou na minha cadeirinha dobrável comprada nos primeiros dias em Beijing. Mas desta vez deixei a minha fiel cadeira em Chengdu para ir visitar o Yvan, um amigo de Paris em viajem a Shanghai, e o trajecto de regresso deve levar 28 horas. Portanto lá fui bater à porta da revisora depois de perceber que o cortejo de outros passageiros que tinham feito fila a essa porta vinham fazer o mesmo. E com uma expressiva mímica pedi uma cama. Nisto passam-me quatro bilhetes, para além do que  já tenho, e enviam-me para uma carruagem de camas. Instalo-me, engano-me na cama, uma estação mais tarde tenho que passar as coisas para a cama de cima. Ainda é dia, tudo bem. Põe-se o sol e preparo-me para me deitar. E nisto vem a pica que me faz perceber que tenho que passar para uma outra carruagem mais para trás. Já não restam dúvidas, paguei para quatro camas em quatro porções de trajecto. O que não seria demasiado mau se a próxima mudança não fosse às 3:30 da manhã, possivelmente a pior hora… Não será a pior noite, mas não a melhor (na melhor dormi tão bem que me roubaram um saco). Mas deixemo-nos de parênteses e voltemos aonde vos tinha deixado no último post…

Da Coreia do Sul para a China saem vários ferrys. Escolhi o de Incheon para Tianjin, o porto mais próximo de Beijing. Umas 26 horas no ferry Tian Ren, branco e enferrujado aos cantos, onde reservei uma cama num dormitório de 64. Regresso aquele vagar das longas travessias, onde a pressa não faz sentido. Só a saída, pela manhã, demorou umas horas, por uma eclusa XXL, visto Incheon ser um porto inteiramente fechado. Enquanto isso os passageiros, todos chineses, alimentavam gaivotas em voo rasante ao longo do parapeito do convés, cujo grito nos acompanhou durante algum tempo ao mar, passando debaixo da longa ponte que atravessa a baía. Já quando foi a nossa hora de almoçar se notou que a pressa não tinha ficado toda em terra. Cotoveladas, empurrões, tudo valia para chegar aos dumplings e respectivo molho, apesar da abundância. Uma primeira diferença cultural, que iria reencontrar em todas as filas a partir de então. A única por vezes incomodativa, juntamente com a cuspidela, cá uma medida de higiene levada muito a peito. Em contrapartida, quando não em carga de ombro por trás, os chineses mostram-se acolhedores e comunicativos. Assim do professor de inglês reformado (e com inglês enferrujado), que o João (companheiro do Millenium, que por esta segunda vez embarcou comigo) conheceu, e que tratou de fazer conversa em toda a medida do possível. Voltarei a estes encontros fortuitos na parte em inglês. Ele nos disse que o atraso, umas seis horas, era devido a manobras militares. Facto é que a entrada do porto estava engarrafada de barcos de todos os tamanhos e feitios, sem falar das plataformas offshore, tudo perdendo-de numa bruma pouco poética. Já todos ouviram falar de Tianjin, é a cidade onde houve um imenso acidente industrial há poucos anos. Não andei à procura de vestígios, mas o que não pude deixar de descobrir foi o famoso smog chinês, bem denso e ligeiramente cheiroso logo à chegada, maquilhando as feições dos prédios e torres de « base » cinzenta. Juntem ao panorama o vidro do carro pelo qual o vejo, cujo condutor conseguiu a minha confiança (relativa) graças à cumplicidade de um oficial do porto para me fazer pagar o dobro do preço pela corrida (e mais que aquilo que irei pagar por milhares de quilómetros de comboio), e têm a minha primeira impressão do Império do Meio, que só melhorou desde então.
Espero pôr em breve um mapa no blogue, mas entretanto abram um noutro separador porque a partir daqui o itinerário deixou de ser linear… A grande como a pequena escala já que continuei com o meu hábito de descobrir as cidades a pé. Depois de uma noite em Tianjin e uma breve visita da cidade (de máscara ao queixo) – recomendo a casa de porcelana, fui para Beijing, onde me convidava o Alex, um amigo chinês do mestrado. Mencionei no último post a hospitalidade dos chineses e voltarei a isso em inglês, mas conste que ele me acompanhou ou me fez acompanhar (juntamente com duas outras amigas minhas) aos principais pontos de interesse da cidade. Nas únicas horas que passei sozinho em quatro dias perdi-me nos arredores da estação central à procura de um mapa, mas tal não voltou a ser possível… De relance dou-vos a ver as ruelas de piso irregular dos « Hutong » em volta da Cidade Proibida, que percorremos no banco de um tricíclo ao cair da noite, descobrindo as velhas casas de muros baixos, uns com veneráveis portões tradicionais ladeados de duas pedras esculpidas (redondas para oficiais do império, quadradas para académicos) e encimados por duas ou quatro extremidades de vigas (em função da importância) e dourados ideogramas em fundo escarlate, outros atravessados por simples portas de metal, entre as quais a da casa onde Mao se albergou enquanto estudante quando primeiro chegou a Beijing vindo do campo. Vale também uma menção o campus olímpico, onde me levou a Heidi de noite, não pelo conhecido estádio em forma de ninho em frente das torres dos anéis iluminados de todas as cores, mas pelos grupos de sexagenárias(os – em minoria) fazendo em sentido o seu exercício vesperal, danças tradicionais com leques e vestidos coloridos e esvoaçantes.
De Beijing cheguei a Shanghai na Terça 18 de Outubro de manhã, para ficar quatro noites. Dias bastante desconsolados, chuvosos e brumosos, de que já falei no post precedente. Ainda deu para ver a célebre skyline (sim sim, aquela com a « pearl tower », uma torre de televisão com uma grande bola em baixo e outra em cima, assente em três pés de betão, entre outros arranha-céus) desde o « Bund », um cais ao longo do qual se acotovelam hotéis e bancos em estilo neo-clássico do meio do século passado. Duas imagens da finança e especulação de lado e de outro do rio movimentado, que valeram aos habitantes da cidade o seu sobrenome de « pequenos capitalistas », da parte do resto do país. Também visitei um templo budista, ainda em construção, edifício de betão nu nos primeiros andares e madeira maciça nos seguintes com os tradicionais tectos em curva e exuberantes decorações douradas em volta dos Budas monumentais, de cânfora ou pedra. Devotos(as), turistas e monges circulam para diferentes rituais. Fico sem saber o que pensar, visto a posição do regime relativamente a religiões, nomeadamente o acontecido nos Himalayas. Nessa noite janto em Qibao com o meu hóspede Couchsurfing, um bairro histórico entre outros menos históricos ao longo de um canal, com casas tradicionais investidas por lojas de comida ou lembranças mais para turistas. Falta-lhe a vida local.
É com um certo desânimo que escapo para Hangzhou (tornada célebre pelo recente G20) até porque me desapareceram o guarda-chuva e o impermeável durante a noite. A recepção do hostel fornece-me um guarda-chuva dos perdidos e achados para afrontar o chuvisco lá fora e aí vou eu, chegando já de noite, só são 5h da tarde. Na recepção do hostel (a partir daqui fui de hostel em hostel, da YHA China para quem precise do conselho: são noites entre 30 e 60¥, ou seja 4 a 8€, fáceis de encontrar na net sem google) cruzo-me com o Axel, um francês assinalado pelo guia que leva na mão. Um pouco de conversa não tarda a convencer-me a acompanhá-lo, e ao amigo Marco, para o jantar e no dia seguinte para uma caminhada na montanha de Huangshan. O moral recupera, amparado pela companhia e mais tarde a altitude, depois das 3 horas de autocarro para chegar à cidade de Huangshan, ainda a umas horas do parque natural propriamente dito. Este, como outros na China, está organizado quase como um parque de atracções, com bilheteira (cara) à entrada, barreiras para orientar as filas de turistas para o teleférico ou os caminhos, e caminhos que são antes escadas de pedra ou betão montanha acima. Estas escadas são percorridas de alto a baixo por magotes de turistas e ocasionalmente um carregador, os seus dois pesos em equilíbrio nas pontas do bamboo que leva ao ombro, uma visão curiosamente tradicional e porém central para alimentar as modernas infra-estruturas espalhadas nas alturas: hotéis, restaurantes, teleféricos, estação meteorológica e lojas « de conveniência ». Vale a paisagem, desvelada de vez em quando pelo sol dissipando o nevoeiro, de montes abruptos que são imensos cabeços de granito, com traços de humidade que fazem como lascas de madre-pérola embutida e pequenas árvores de copa em tufos, com num jardim ou numa estampa chinesa. No cimo, o sol já posto por trás da montanha proporciona-nos ainda um último espectáculo: laivos de bruma dançando sobre um vale entre as falésias sobre as quais nos encontramos, como dragões dourados sobre o tapete das cores de outono de onde se erguem aqui e ali impressionantes pináculos de pedra.
Pronto, dormi um pouco, vieram acordar-me e agora estou na carruagem 12, depois da 14 e da 18 (a contagem começa em 1, isto são comboios compridos de verdade). Claro que tinha que me calhar o ressonador de corrida, que já se ouvia a uns compartimentos de distância. Tenho a impressão que cá já me calharam mais destes barulhentos na China do que na média, será por causa da poluição? A ver o que me reserva o última poiso, na carruagem número 13…
Continuando a história, depois de Huangshan regressámos a Hangzhou e ao seu bonito lago, posto que me despedi dos meus companheiros para partir para Xi’an. Xi’an é a cidade no centro da China perto da qual está desenterrado o Exército de barro, uns 6000 soldados mais uma cidade inteira velando pelo sono eterno do seu imperador, que repousa debaixo de um mausoléu que é uma pequena montanha em forma de vasta pirâmide de umas boas dezenas de metros. Lá fui eu no segundo dia ver as valas onde se amontoam os guerreiros, na maioria sob forma de estilhaços, os restantes tendo sido pacientemente restaurados, no que deve ser o maior puzzle da história. Parece que a cidade mortuária foi profanada por um aspirante ao trono poucos anos depois de selada. Pobre do imperador, que tinha mandado começar a construção quando ainda era criança, preocupado pela solidão que o esperava na morte. O que se recuperou até agora já é impressionante, filas de figuras de tamanho humano ou um pouco mais, cada qual com a sua face impávida mas realista. Também há dois carros destinados à revisão das tropas pelo imperador e a imperadora, à escala 1:2 por alguma razão que me escapa e que o nosso (juntei-me a um par de Sri Lankeses para partilhar custos) guia, com o seu inglês aproximativo, não pôde explicar; e uma corte de conselheiros e acrobatas. Parte do interesse da visita foi deambular pelo recinto da Cidade Mortuária, à superfície um simples mas bonito e denso bosque, deserto comparado às multidões que se empurram à entrada das valas. À entrada tem um cemitério diferente, também com o seu quê de impressionante: um hangar de grades, selado, cheio de bicicletas para aluguer, de ar novo não fosse a ferrugem que as inutiliza, o ciclismo não parecendo ter atraído muitos turistas. De Xi’an percorri ainda as muralhas, vasto rectângulo, a maior fortificação de cidade ainda de pé no mundo, separando hoje as ruelas dos bairros históricos reconstituídos do centro e os prédios de habitação da periferia. Ao longo do passeio (umas horas, são uns bons 20km), painéis explicativos apresentam as imaginativas invenções dos generais chineses para invadir tais fortificações, incluindo engenhocas sofisticadas (o aríete de ponta aguçada – simples mas eficaz) e o uso dos muitos rios do território para pura e simplesmente inundar a cidade alvo – e os não menos imaginativos meios de se precaver desses ataques.
Agora é que me assustei… Acordando do meu meio sono, reparei que o meu telemovel não estava no bolso suposto. Será que caiu na outra cama? Tinha que me lembrar disso no momento em que passageiros fazem fila para saias na próxima paragem. Aí fui eu feito Bugs Bunny no cinema, de barulhinhos em cotoveladas visto que ninguém perceberia « com licença ». Uma, duas, três, quatro, cinco carruagens. E o meu telemovel não está. Há que mencionar que apenas há duas semanas me tinham roubado dois telemóveis num comboio, este sendo novo, daí uma febrilidade que o objecto em si não merece. Lanternas, vem um passageiro ajudar, depois um par de oficiais do comboio, nada, sumiu. Regresso cabisbaixo à minha cama, pensando no orçamento para telémoveis passados e futuros (não que seja elevado, são sempre daqueles « tipo Nokia », mas é pelo princípio). E afinal o dito cujo está escondido por baixo do casaco na minha cama! Alívio e vergonha, mas o sono rapidamente vence tudo e volto aos braços de Morfeu, de onde saio já meia hora depois da hora prevista para a última mudança. De onde deduzo que vamos atrasados, mas posso estar enganado. Por uma vez convinha-me, porque a cama de terceiro andar ali no cimo não dá jeito para ir sentado nem para admirar a paisagem, que vale a pena. Isto para não falar no cheiro desta parte da carruagem, adocicado e enjoativo, conheço-o sem o poder identificar.
Voltando à viagem, de Xi’an vim para Chengdu, segunda 31 de Outubro, para começar um voluntariado. Acaba por só começar na quarta, tenho uns dias para recuperar (vitima do síndroma « tenho tempo para visitar mais tarde » acabei por não visitar grande coisa), trabalho outros três, e no Domingo tenho que me fazer aos carris de novo. Isto porque o meu visto é válido para duas entradas de 30 dias e a primeira está a chegar ao fim. Direcção Hong-Kong, em três noites, duas em comboios de noite, e uma intercalada em Guilin, cidade perdida no Sul da China e conhecida pelas montanhas dos arredores que vêm brotar montes e falésias até no centro da própria localidade. O resultado é agradável, dá para se achar já fora da cidade só andando à beira do rio que a atravessa. A ilusão dissipa-se quando observando do alto de um dos miradouros: as construções estendem-se ao longe, cercando os montes verdejantes que sobram, em frente ao horizonte de montanhas, como dentes arredondados uns a seguir aos outros. Não me posso demorar aqui, no dia seguinte já estou em Shenzen, a cidade onde se atravessa a fronteira para a « Região Administrativa Especial » de Hong-Kong antes de apanhar o metro para o centro desta cidade. Um choque, esse metro. 40 dólares de Hong-Kong, perto de 4€, vindo de um país onde o trajecto custa dez vezes menos. Tirando isso aprecio o que vejo de Hong-Kong mais do que esperava, com o seu segundo plano de montanhas e florestas por trás dos arranha-céus. Numa exposição de rua sobre a história do cinema reparo de relance nesta frase de conclusão: « No futuro o filme de Hong-Kong irá fundir-se com o estilo da China continental, numa transição inevitável e irreversível. ». Está tudo dito. Noutro registo, passo pelo departamento de educação e sensibilização à manutenção do meio ambiente, que parece extremamente activo, com uma exposição acerca de plantas purificadoras do ar. As árvores são algo levado a sério em toda a China. Aliás, já me esquecia de mencionar que, em Chengdu como noutras cidades, raras são as ruas que não estão plantadas da sua dupla linha de árvores. Nanchang, onde passo uma noite no regresso de Hong-Kong a Chengdu, não é excepção, com em bónus uma beira rio em vias de arranjo em espaço verde, de momento um campo de obras, um pouco diferente das obras para as imensas infra-estruturas em construção por todo o lado na China. Em Nanchang encontro cinco chineses sucessivamente (dois e depois três) de hospitalidade exemplar, que me oferecem jantar, almoço e piquenique, e ainda me fazem uma visita guiada do Museu da Insurreição do Primeiro de Agosto, inicio da revolução chinesa. Voltarei a eles.
Desde então era suposto ficar em Chengdu… Era sem contar com a proactividade dos meus colegas e supervisores que aproveitaram qualquer embrião de plano de visita que eu tinha para me meter no autocarro ou no comboio para fora. Foi assim que acabei em Jiuzhaigou no fim-de-semana 19-20 de Novembro, de sexta a segunda. Jiuzhaigou é um pequeno vale nos contrafortes dos Himalayas, próximo de Chengdu – apenas 400km percorridos em nove horas de autocarro nas montanhas… À entrada do vale há uma pequena localidade constituída de hotéis e parques de estacionamento para autocarros de turismo – felizmente maioritariamente vazios nesta época tardia. Turismo de massa é uma expressão que toma todo o seu sentido neste país. Paga a taxa de entrada – equivalente a uma semana de hostel em Chengdu, descobri as filas de vaivém (verdes, para se fundirem na paisagem) que levam os visitantes vale acima até aos pontos de interesse. Assim me descreveu a sua visita um companheiro de quarto no hostel onde fiquei: « Apanhámos o autocarro, fomos ao lago mais ao cimo, saímos para tirar fotografias, voltámos a apanhar o autocarro para o lago por baixo, saímos para tirar fotografias, e assim sucessivamente. [Nessa noite] Vou mostrar-te as fotografias. [Pouco depois] Importas-te se a minha amiga nos tirar uma fotografia aos dois? » Por minha parte, fui a andar vale acima, o que foi um pouco apertado a nível do tempo, mas me permitiu observar as paisagens longe das multidões. Multidões na minha opinião desproporcionadas, trata-se de um vale sem dúvida bonito, mas não muito mais que outros. A particularidade são os lagos, de água cristalina deixando ver o fundo de areia azulada, coberto perto das margens de árvores caídas que formam como uma floresta fantasma por baixo da floresta propriamente dita, que conservava ainda umas últimas coloridas folhas de outono. Aqui e ali, a água transborda de um lago para ou outro através da floresta, como entre dois tanques de uma fonte, formando bonitas cascatas entre as árvores. Digo andar e não caminhar porque aqui, como em Huangshan, onde se pode andar fora da estrada os caminhos são largos pisos de madeira assentes em vigas de betão, cobrindo qualquer subida com degraus. No dia seguinte, tendo perguntado na recepção do hostel, meti-me por um trilho no vale ao lado, e aí sim pude fazer uma caminhada, arrastando as botas pelos espessos tapetes de folhas secas floresta acima, até uma bonita clareira ao sol rodeada de altos picos (a própria clareira à volta de 2500m de altitude). Fica a recomendação para quem gostar de caminhar e pouco de multidões.
De regresso a Chengdu pude poisar (e trabalhar) dois dias antes dos meus colegas me enviarem para Shanghai, onde vim ter com o Yvan (tinha desistido da ideia ao ver que tinha que sair na quinta de manhã para valer a pena, mas eles não deixaram). Uma boa maneira de levar melhores lembranças desta cidade que tinha visto com o seu vestido mais cinzento. Conselho para turistas futuros: uma bebida no bar do hotel do 87o andar da segunda torre mais alta custa pouco mais que o bilhete de subida ao observatório da mesma torre, enquanto que proporciona um momento confortável para observar a vista sobre os arranha-céus iluminados (até às 22:00, para economizar energia), com nomeadamente a impressionante visão da torre de televisão com a sua forma de gotas caindo numa vasta travessa vista de cima de tão alto o andar.
Bom, acho que contei tudo até agora. Sou suposto trabalhar mais seis dias antes de sair domingo para Kunming, de onde apanharei o autocarro para o Laos, mas vamos a ver se os colegas, agora amigos, não se lembram de mais nada [EDIT: não, não se lembraram]. Prefiro passar para inglês para falar da simpatia dos chineses, antes de passar para francês e descrever os trajectos – os comboios! – na China.

 

I’ve told about the whole travel in China in the previous part, but have left aside the important role of Chinese people, old friends, new ones or fellow travellers, in contributing for the nice experiences here. Let me repair that omission.
It started on the ferry from Incheon to Tianjin (please open a map in a separate tab if you want to follow up, I hope to have a map online soon), when a former English teacher engaged in a chat with John (my cabin mate on the Millenium, who boarded with me for the second and last time during this travel), practicing his old English to ask us about our destination, occupation etc. Later the language barrier itself turned out not to prevent Chinese people from being friendly and curious, as I got to explain my whole trip with signs (and a map of Europe I had at hand) to a couple of fellow passengers of the neighbouring hard sleepers. With that the 24+h crossing passed quite fast.
Upon arrival I got my only (relatively) bad experience with a Chinese, namely the so called taxi driver who took me to my hostel upon arrival, for a price double than the regular one. It was night and the terminal in the middle of nowhere, so I had little choice but to bend to his conditions. Turned out not to be that bad, John payed half the price for a quarter of the way, and he was dropped near a metro station, still in the middle of nowhere. Anyway, that first bad impression was offset as soon as at the hostel, where the reception staff was first professionally polite, then went off the borders of professional obligation by offering to share the breakfast with me on the next morning (the hostel provided otherwise no breakfast). So I had traditional local breakfast right on the first morning, a kind of brown noodles in spicy soup and a fried dough – much better than it might sound for someone used to sweet breakfasts of bread and honey as I am. With that in the stomach I went for a walk around the city. That’s where I came accross the first exemplar of »pearl » translations that you can find in this country, which I cite with no mean intention – often they’re not incorrect, just not the way one would typically write it in « Western » countries. If nothing else, the translations show they care about travelling strangers. For example, in the roman church of Tianjin there was this candid « Please do not destroy everything » (alongside with the expected « No short sleeves », the more unusual « No spitting » and the, in my opinion, unjustified « No love »). Later on, in Shanghai, an add would make this vibrant appeal « Don’t let the heavy academics ruin the child’s childhood » (that says it all about how the environment is competitive, at all stages of life). And at the Hong-Kong border there was this threatening offical advise: « Departing with excessive powdered formula commits an offence [sic, I notted it down on the spot] ».
In the afternoon I moved to Beijing. My friend Alex from the master was going to host me, but before that his sense of hospitality was such that he didn’t want to show me his room, certainly too messy and not good enough for me (so I interpret what he told me then). Therefore, after meeting at a metro station, off we went in the search for a hostel. We tried two of them, pointed by a Chinese search engine (most western ones don’t work here), finding nothing but closed doors where they were supposed to be. Ultimately he gave up and opened his shared flat for me. Whatever he might have feared was pointless. Your apartment is more than acceptable, Alex! Anyway.
On the next days, apart from the first morning when he had to work, and reluctantly let me go alone through Beijing’s subway network, he didn’t leave me alone for a moment, guiding me or arranging a guide for me. I have to admit that the reluctancy was not totally unjustified, as I spent that first morning wandering around the National Library, then around Beijing station, hoping to find a map of the city with little luck. Among others I asked in a post office, where the desk officer kindly brought an English speaking worker from inside before asking everyone, including other customers and the cleaning lady, where I might find one, in a nice demonstration of convivial working environment. After those moments of random exploration I got to visit with Alex the Forbidden City, including some side pavilions, namely the Porcelain Collection, constituted by the emperors two centuries ago, whose interest lies not only in the nice pieces, but also its completeness, spanning ceramics a couple of millennia old to « recent » ones; and the zoo of Beijing, hosting some pandas.
He also arranged for us to meet Jenny and, on the next day, Heidi, two friends of mine that he contacted through WeChat, the local Facebook (but featuring far more functionalities, namely payment ones, making it a tool that virtually all Chinese need to have – I have been myself under severe pressure to create an account, which would have happened had I not had no smartphone). I’ve mentioned in the last post the banquets these friends treated me with: a traditional hot pot with Jenny, mixing noodles, bamboo sprouts, meats, shrimp, tofu, cabbage etc cooked into two boiling brews in the centre of the table (one spicy, the other mild); a Chinese style supper by Heidi, featuring a dozen of dishes (for five), including a delicious Beijing duck and an appetiser of sweet pickled fruits, along with meats to be picked inside a sort of pancake by hand, broiled eggs with vegetables, a soup… And I’m not forgetting the large roasted fish with cabbage and sweet potatoes Alex himself treated me with for the second dinner (on the first he ordered half a dozen dishes for two: frog legs, chicken hot pot, pineapple rice…). Bon appétit! After those meals, at night, I was guided to Tiananmen square by Jenny and the Olimpics park by Heidi for very nice walks. All buildings are lighted (until 10pm), creating nice sceneries.
For the last day in Beijing, a Monday, as everyone had to work, Heidi’s husband assigned one of his master students to guide me during the entire day. We went through the Temple of Heaven first (a complex of wooden constructions on white stone platforms covered with nice blue and green tile roofs, separated by a network of ogre walls) then on foot all the way through the charming narrow streets of the Hutongs to the National Center for Performing Arts (Chinese style name for the concert hall), a huge bubble of steel and glass which looks impressive but elegant in the middle of the large pond that surrounds it. The sun was setting when we got there, making for a very nice view. Fanny also helped me to choose a Chinese phone and plan, which I was in need of to organise a volunteering period, and made sure to leave me only between the hands of Alex, who saw me safe to the station for my departure to Shanghai.
I’ll tell more about the trip itself (no reserved seat…) in french, but I’ll already introduce Hector, the first Chinese fellow traveller I met. As the ones to come, he was extraordinarily kind and helpful. Upon arrival, he offered to keep my backpack (an unusual accessory for chinese people, as he explained to me, since chinese have « no time to hike ») at his hotel. There we went, after knocking at the door of a first wrong hotel, with the same name, led by the smartphone routing app. Then we found a coffee shop with wifi – a known international chain which is invading the streets of Shanghai since the foreign settlers let go of them. He needed to work there, despite the fact that he had taken 2 days of holidays to come to Shanghai attend a conference about smartphones, his hobby. Hector offered the hot chocolate of my breakfast, despite my polite refusal, while kindly declining the pastries I had brought from Beijing – an asymmetry found quite systematically that I’ve almost given up fighting by now. We were not far from the Bund so I left him with his work for a walk along the river to observe the skyline on the other margin.
Later I joined Bart, a US American couchsurfer who hosted me for two nights. On the first night we met at a food court where I had to choose between a couple of foreign restaurants (Chinese food is rare in the malls of this city with long western story) – I chose the Italian one as I was somehow missing pasta. On the second day we went (and he accepted to walk back, thus dramatically improving his step count as monitored by his fitness app) to Qibao. This nice preserved neighbourhood, a channel flowing at the foot of the traditional houses, features a couple of street food stores and other tourist shops. Then on the third day I met with another friend from the university times, whose contact I had retrieved through Alex. She invited me to a Korean restaurant before walking with me through the Shikumen, former residential neighbourhoods built by the British speculating upon the exile of chinese people seeking refuge in the foreign concessions during the war, now the zone of bars and night clubs. The next and last day in Shanghai was the first in a few weeks (since Kyoto) I spent entirely alone, and as a result the moral dropped. Travel does make you a bit vulnerable to loneliness, especially when it is rainy outside and you lack sleep.
Fortunately, loneliness becomes a rare supply as a traveller, and this time was no exception: after fleeing to Hangzhou hoping for change, I met Axel and Marc, two French backpackers on their way to Huangshan, a known mountain nearby. I quickly decided to join them, but before that we went for dinner with Jane, a Chinese girl who they had met that afternoon. She told us the legend of the formation of the lake (in a stumbling English, so I only can tell it involves a complex love triangle between a human, a spirit who takes the form of a snake then of a lady, and a monk) and got so much into it that she missed the turn we had to take. That was a maybe 100m detour, but she was so embarrassed that she decided to offer us the dinner, to the three of us (she had already eaten). None of our insistence could move her from her decision. We fought and won a little revenge later on as she took us to a nice bar besides the lake with live music, where we could get her to accept one drink from us three. The evening finished in a small crowded pub, with a live pop band, where we danced for a the last hours of the « night » (ending at 1am there).
The next morning, as I was packing for the expedition to Huangshan, I had my first communication experience with interposed translating app. A young men decided that he wanted to walk around with me, no matter the language barrier and the available time. I was happy to share with him my last hour before the departure, so we left the hostel for a tour along the lake (by now you understood that Hangzhou features a nice lake, fairly large, which you can picture with its paved lakeside walkways under the trees – many weeping willows – and its gracious rafts decorating the calm water surface). We would type our questions and answers on his smartphone, and slowly got to know a bit about each other. He took a photo of us two, as did Hector before him and many others after, but I haven’t been able to retrieve most of them since Chinese are not always familiar with the use of email and most haven’t used the address I provided them. But as long as you’re face to face you’ll never be disappointed. In this case, Tang offered to drive us (my two new friends and me) to Huangshan, where he was from. Unfortunately he was only going there in a few days and we couldn’t wait, so I thanked him and we left for the bus station.
Upon arrival in Huangshan city, we took a taxi to the hostel, which turned out to have the taximeter « broken ». As in Tianjin, we payed double price, but also like in Tianjin the reception staff was very kind. They gave us extensive information on how to reach the mountain and plan our stay there before doing the bookings for us. To tell the whole story, the booked bus was at first a small van, too small for the number if passengers, but after a bit more wait a replacement bus came to pick everyone. A couple of hours and a bus shuttle (with additional fee) later we made it to the entrance of the park, got our tickets (as in all natural reserves in China – and they aren’t inexpensive), skipped the lines for the cable-car and started climbing. Along the way we would phase in and out of other groups who looked at us with curiosity, wave, said a few words in English if they could and then got us to understand that they wanted to take a photo with us. So we entered the memories of a few local tourists on the way to the top, with different background landscapes, many of them quite wonderful, others foggy. The high sugarbread shaped granite peaks with colourful traces of water and nice little Chinese trees provided indeed for clickworthy photos. On one instance did that turn against us: on the next day, as Marc and I were seating on a rock overlooking a cliff and a wooden valley from where some impressive rock peaks sprouted, an organised tourist group started to look and wave hostilely at us, until we accepted to get down of our viewpoint for them to seat there, backing the landscape, and take a selfie with their stick. We took refuge on a nearby stone balcony, where we soon turned out to be an unwelcome background for other photographers. On that second strike we gave up observation and started the way down.
Back to Hangzhou I had to leave my new friends (after visiting the old neighbourhood with them, namely a traditional pharmacy with all kinds of unidentifiable goods at unbelievable prices – for instance a sort of dried worm for about a hundred pounds) and make my way to Xi’an. In Xi’an I again had a very nice experience with the hostel staff, who came to pick me at the bus stop as I was unable to find their door (which proved to be indeed not as close as I had understood from their approximate English). I ended up alone in a dorm of 8, one of the advantages of travelling during the low season. Let me skip the visit of the Terra-Cotta warriors pit, as the patience of our guide was payed for with actual Yuans. « Our » as I teamed with a Sri Lankese couple to share the cost for the guide. Also nice fellows, after the visit we shared a small pic-nic,
Fast-forward to Chengdu, a couple of days later. Nice hostel staff, desert dorm for myself, smiling restaurant waitress for my first experiences of self-ordering from Chinese menus (as long as you don’t have a precise idea of what you want to order, pointing a line with one or two familiar characters won’t result in a disappointment). I mentioned that I was planning a volunteering period. There we are. On the 2nd of November, I started an « immersion » of a few weeks into Chinese working environment, in a rehabilitation clinic (don’t ask why a rehab clinic, that’s the aleas of networking and opportunity seizing – I was doing website design). I don’t know if the clinic is an exception, but I found the ambience very relaxed comparing with the « pressure at work » I was expecting to find. Maybe my colleagues were just very good at not exteriorising. In any case they welcomed me cheerfully and managed to keep me busy with instructions using English, online translator and examples. One of them offered to host me at his place, where I was introduced to MaJong. In professional setup the rules of hospitality don’t apply, so we would « go Dutch » to pay the meals. With the notable exception of the last lunch, offered by the clinic director, Chinese style again (12/5 meals/person ratio, if you’re keeping statistics). And the first and last lunch with my supervisor, who invited me for dumplings. Last but not least, they made sure I had enough time for a bit of travel, including sending me for a long week-end in JiuZhaiGou.
Impeccable hostel staff there, with two cute little siblings who cared little about my Chinese ability and kept trying to ask me all their questions. I got assigned to a room with only three beds, fully made and with thick, cozy blankets, for the price of a dorm. I’ve told in Portuguese about my roommate there, talkative young guy who showed me the pictures of his visit inside the natural park before taking one with me to complete the series. He also showed me some of his drawings and carvings, as he was designer. The week after, my colleagues again sent me out, insisting that I should go to Shanghai visit Yvan (a French friend on a short stay there), a project that I had almost given up. This, combined with the travel back and forth to Hong-Kong that I had to do to renew my stay in China (I later discovered it would not have been complicated to extend the stay instead) blew up the distance traveled (mostly by train) in China.
As you would guess, nice hostel staff in Guilin and Nanchang, where I stayed on the way in, resp. out of HK (cities picked fairly randomly on a map). But there is a special mention for my dorm mates in Nanchang. In the evening of my arrival, two of them joined me for a walk around the historical neighbourhood before treating me with dinner, and as if not enough with a sort of traditional rice soup with meat and some sweet rice crackers that provided for a few breakfasts. On the next morning I asked the reception for a bakery around to find my breakfast. Rather than showing me on a map, they called a young guest who was sitting nearby and asked him to show me the way. He in turn bought me one specialty besides the pastry I chose. A sort of « Berlin Ball » without filling but coated with something that looked and tasted like dried fish… Once back at the hostel he introduced me to his two friends, and ultimately he was the one who treated us all for lunch, in a small but good restaurant. Once he left for the university, Johnson and Kiwi guided me through the 1st of August Nanchang insurrection (beginning of the revolution war) museum, in a very interesting « insider visit ». Another invite I got, worth mentionning, is the one to a concert of traditional chinese music in the Sichuan Conservatory by a music teacher who was living in the same dorm as me in Chengdu as his appartment was under renovation. Very interesting and nice concert in fact, where the children choir was dressed brigth red and white, contrasting with the grown up, in grey or ocre tunics, where the voices sounded like string instruments and the string instruments like voices. My good star was shunning bright those days, as on the train back from Nanchang to Chengdu, which I again took without reserved seat, the train officer found me a place besides possibly the only English speaking girl of the truck, who shared all the snacks she had with me (always declining my offers), leaving me the remains when she left. She became translator for the little group of curious passengers who gathered around this strange foreigner with absurd hair (« are those genuine curls? »).
This takes us back on a train, a central element of my stay in China, so much that I will switch to French to dedicate a full third-post to the subject.
Description de la scène, vous serez de suite dans l’ambiance: les wagons des trains « lents » ici en Chine sont meublés de rangées de sièges face-à-face, bleus, banquettes à trois places d’un côté, banquettes à deux de l’autre. Les porte-bagages sont en général pleins, quelques valises et petits sacs-à-dos, des sacs de toile type « supermarché » et des baluchons moins charactérisables (mon gros sac-à-dos à toujours été seul dans sa catégorie). Quelques bagages trop lourds ou encombrants sont rangés sous les banquettes, dépassant plus ou moins. Je suis assis côté fenêtre sur une banquette de deux, dos à la marche, à côté d’Étoile (traduction libre de son nom), probablement la seule personne parlant un peu anglais du wagon. C’est la controlleur m’a amené là, côté couloir, avant qu’Étoile ne me cède impérativement sa place à la fenêtre, après m’avoir fait accepter ses M&Ms entre autres en-cas plus exotiques (viande séchée un peu confite, cuisses de poulet en conserve dans un sachet plastique, poisson séché) qui trainent encore sur la tablette entre les sièges, à côté d’un petit plateau argent où l’on laisse les déchets. Le paysage vaut son pesant de kopecs (ici, des yuans): vallons abrupts ou rizières en terrasses verdoyantes où s’éparpillent des petits villages ou maisons isolées, tantôt traditionnelles, blanchies et au toits en tuiles grises très serrées, tantôt de vieux immeubles en béton branlant, quand ce n’est pas un bout d’infrastructure (ça construit à tour de bras ici: viaducs, immeubles, voire villes entières). La controlleur elle-même prend une pause, assise en face, dans son uniforme bleu à chapeau rond aux bords relevés, souriant aux quelques mimiques qu’elle a trouvées pour communiquer avec moi (notemment pour me demander mon billet). De la banquette à côté six paires d’yeux plissés me regardent avec curiosité. Des banquettes de derrière et de devant on s’est levé pour se pencher du côté de mon compartiment. J’aimerais pouvoir dire que la conversation va bon train, et caser un mauvais jeux de mots, mais ce serait trop dire. On se comprend pourtant, entre gestes et traductions plus ou moins approximatives d’Étoile. Mes cheveux font souvent les frais des premiers échanges (« C’est des vraies boucles?[sic – traduit librement du chinois à l’anglais puis au français] »), sinon mon gros sac (« On n’a pas le temps de faire de la randonnée, ici. »), ou bien d’où je viens (prononcer [Poutaouia], en Chinois). Bref, la foule n’est pas toujours aussi nombreuse, mais les regards curieux je les ai eus à tous les coups, les sourires entendus mais désolés de ne pas pouvoir communiquer presque toujours, un brin de causette assez souvent.
Ça fait passer le temps, ce qui n’est pas de refus. Un lieu commun s’impose… La Chine, c’est grand. Même en privilégiant les trains de nuit on passe facilement plusieurs heures de la journée sur les rails. Petite statistique: en deux mois j’ai pris 12 trains, dont  9 de nuit, parcourant 12400km en 188h pour un prix modique de 2519 yuan, soit 340€, soit une vitesse moyenne de 66km/h et un coût de 2,7 centîmes/km (à ce prix-là, feu le Paris-Berlin serait 28.5€) ou 42€/nuit. Je mets le détail ci-dessous, ne serait-ce que pour l’itinéraire. Il parait qu’une allemande habite dans les trains DB en se douchant dans les gares. Je peux lui recommander de déménager en Chine.
Cela dit il lui faudrait quand même faire quelques sacrifices au confort à l’occasion. Comme je voyage au jour le jour il m’est arrivé (souvent) de ne pas pouvoir prendre de place réservée. Dans ce cas on vous donne le droit de monter dans un wagon de places assises et de vous débrouiller comme vous pouvez. Ce qui peut être pas mal, comme sur le trajet de Chengdu à Guilin où le train était en fait vide la nuit (sur les 21h de trajet, pas étonnant), me permettant de m’étendre confortablement sur une banquette de trois places. Le confort ne doit pas faire oublier les précautions élémentaires, par contre. Si vous laissez votre sac « à main » sous la banquette sur laquelle vous vous endormez profondément, ici comme ailleurs il y a des chances qu’un opportuniste vous la pique en descendant à son arrêt. Ce qui m’est arrivé (c’est dire si je me sentais déjà chez moi), heureusement avec un sac qui ne contenait rien d’indispensable à la poursuite du voyage. Mon journal de bord a disparu cependant, et mon carnet d’adresses, imprudemment gardé avec mon téléphone portable. Du boulot en perspective au retour pour reconstituer tout ça. Je suis vacciné à présent. Je raconterai bien les péripéties avec l’officier de police du train, introduit par un contrôleur et traduit par le smartphone tantôt d’une passagère, tantôt du cuisinier du bord, toujours dans une ambiance plutôt familiale que j’ai retrouvée à l’occasion dans les hostels ou les offices de poste, mais ça nous mènerait trop loin.
Bref, à l’inverse si sans place assise on a l’imprudence d’arriver dans les derniers sur un trajet fréquenté, Beijing-Shanghai pour prendre un exemple au hasard, les petits coins seront déjà pris, et vous passerez la nuit dans le couloir, près des toilettes ou du robinet d’eau chaude selon le côté du wagon, ce qui signifie que des passants vous enjamberont les genoux toutes les quelques minutes, y compris la nuit lorsque les fumeurs insomniaques viennent griller leur cloppe sur la plateforme (la fumée de cigarette est un inconvénient mineur après le smog des grandes villes). On peut dire les genoux à condition d’avoir acheté une petite chaise pliante avant le départ, sinon il faudra un sacré effort de volonté pour s’asseoir sur le sol où brillent (plutôt rarement) un ou deux crachats. Lot de consolation, au réveil (car il s’avère que j’arrive à dormir – ou du moins sommeiller – dans ces conditions) une place s’était libérée non loin, ce qui m’a permis de me dérouiller les membres tout en conversant avec mes voisins, avec la traduction d’Hector, un jeune Chinois qui a ensuite guidé mes premiers pas à Shanghai (voir partie en anglais).
Malheureusement je n’avais pas de chaise pliante lors de mon retour du deuxième séjour à Shanghai vers Chengdu (j’avais voyagé léger pour le week-end pour retrouver Yvan, un ami d’Europe). Dans cette situation il y a une échappatoire: on peut demander un surclassement vers les couchettes. On vous donnera alors une combinaison de billets « bouche-trou » pour aller occuper les couchettes libres sur les différentes parties du trajet, ce qui peut impliquer un réveil à trois heures de matin pour passer d’un wagon à l’autre (c’est là que j’ai écrit le récit en portugais).
Sinon si vous n’avez pas le cœur pour tout ce romantisme vous pouvez prendre des trains rapides. Là on frise le 200km/h voire plus dans des rames assez cousines de l’ICE (pas aussi semblables cependant que les rames coréennes qui sont des clones des TGV – une énigme non résolue). Petite tablette pour écrire – de Chengdu à Shanghai j’ai reconstitué en résumant le journal de voyage volé. Par contre il n’y a que des trajets de jour, il me semble. Le paysage sera sensiblement le même qu’avec un train lent (souvent superbe, je me répète), et vos voisins moins enclins à la communication, vu que les banquettes sont toutes dans le même sens (et non face-à-face).
Au total, les expériences aidant (celles que je ne mentionne pas étant des nuits passables sans histoires avec les autres passagers) je suis devenu un habitué des nuits sur un siège de train, le (ou les selon la durée) pic-nic dans le sac et quelque chose pour s’occuper en attendant qu’un voisin vous adresse la parole, pour offrir des graines de tournesol ou demander d’où vous arrivez. Ça me manquera au Laos, où j’entre en bus de nuit après-demain (la ligne de train est prévue pour 2020 – quand je vous dis que ça construit de partout).
À bientôt!
Trajet  Train Date Horaire Temps [h] Temps [min] Distance [km]
Tianjin-Beijing C2056 13.10.2016 15:05-15:40 0 35 118
Beijing-Shanghai T109 17.10.2016 19:33-10:43+1 15 10 1193
Shanghai-Hangzhou K575 22.10.2016 14:18-16:26 2 8 183
Hangzhou-Xian K1040 27.10.2016 16:06-12:34+1 20 28 1332
Xian-Chengdu K165? 30.10.2016 22:10-14:26+1 16 16 728
Chengdu-Guilin K652 06.11.2016 15:50-17:18+1 25 28 1193
Guilin-Shenzhen K950 08.11.2016 21:05-09:58+1 12 53 603
Shenzhen-Nanchang K116 10.11.2016 18:43-06:38+1 11 55 811
Nanchang-Chengdu K422 12.11.2016 17:41-16:15+1 22 34 1495
Chengdu-Shanghai D638 24.11.2016 07:12-22:38 15 26 1966
Shanghai-Chengdu K1156 26.11.2016 11:18-15:45+1 28 27 1966
Chengdu-Kunming K1501 05.12.2016 17:03-10:38 17 35 834
Totaux: 2519.6 188 55 12422

Trajets en train en Chine. Les trains K et T sont « lents », C et D rapides. À noter que je n’ai pas battu le record qui est de 36h dans le Empire Builder aux EU.